Minha amiga Nicolle Longobardi (18 anos) me enviou esta crônica de excelente valor para nossa sociedade. Seria muito bom se todos os jovens tivessem este senso crítico sobre a realidade gonçalense. Li, gostei e compartilho para todos vocês! Segue:
EU FUI PERGUNTAR!
Eu fui perguntar. Eu ouvi gente falar. Perguntas simples, nada demais, daquelas sobre o que você acha, e coisa e tal. Recebi repostas manchadas, marcadas, como um carimbo de tinta bege num papel higiênico. Sim, posso me esforçar e explicar melhor.
Acordei sozinha sem despertador, a urgência do dia que nascia me despertou, interrompeu meu pesadelo sobre acidentes de carro. Melhor assim. Fui para o pré vestibular, e após terminar as aulas não conseguia parar de pensar em história, sociologia, filosofia e literatura. Parece droga, loucura, caminhei na rua pensando alto, falando sozinha. Memória refeita, derrama, quinto, revoluções separatistas,Cristianismo, Joana Darc, Mito da Caverna, felicidade, Joana Darc virou santa que porra de contradição, emancipação, Che Guevara, Mídia,Coca- Cola, Rede Globo,calça jeans, ainda é possível mudar?, alguém precisa salvar a mídia, Aristóteles existiu?, imposto sempre existiu, o que eu vou fazer pra mudar a mídia?,igualdade ainda que tardia, que desespero!
Cheguei no Centro Cultural Joaquim Lavoura não tinha ninguém, não encontrei meus amigos e nem a secretaria de cultura, liguei para a minha mãe e o aluno dela queria se matar, encontrei meu namorado, enfim encontramos meus amigos, eu estava ali somente para fazer companhia, o objetivo do encontro era: fazer um vídeo sobre a ausência da secretaria de cultura em São Gonçalo. Não aguentei, decidi me envolver. Filmamos aqui e ali e decidimos perguntar as pessoas se elas sabiam que estávamos com uma secretaria de cultura totalmente entregue as moscas (aliás mosquitos da dengue também, porque no Centro Cultural Joaquim Lavoura tem um laguinho com a água toda verde, parque aquático de mosquititos e mosquititas gonçalenses, mas não perguntamos se as pessoas sabiam sobre os mosquitos da dengue) e também sobre o que eles achavam sobre esta situação da secretaria de cultura. Perguntamos para a moça grávida, o menino do boné, a tia da balinha, a moça que passava, a moça do salão que não quis responder, a moça da feirinha do Mauá, a manequim da feirinha do Mauá, a menina bailarina e mais algumas muitas pessoas. Eu nunca tinha parado para ouvir as pessoas da minha cidade, pessoas que eu nunca tinha visto, pessoas diferentes, de todos os tipos. E elas responderam, e na medida em que respondiam eu ficava cada vez mais triste. A conclusão é uma só: as pessoas não tem a capacidade de juntar 10 palavras em uma frase. As pessoas não sabem se comunicar, e me fizeram acreditar com suas frases feitas que elas são levadas pela onda do deixa a vida me levar, não conseguem em um diálogo mostrar com suas opiniões quem são e o que pensam da vida, não pensam, as pessoas que eu ouvi falar não pensam, elas repetem,expressividade papagaia, elas existem, elas são números e estão conformadas com isso, elas não leem nada, não leem um livro, não leem a vida, não leem o mundo, elas não absorvem, elas são veículo. Como é possível viver assim? Sobre o que elas pensam antes de dormir? Isso é um problema histórico, um problema social, isso não é um problema só delas, isso é problema meu, nosso! Eu sou memória, eu sou história, eu sou jovem e sou uma sociedade inteira, não é possível que só eu pense assim. Meu texto é urgente , quero deixar claro que a situação é caótica, está tudo desarrumado na minha cidade, e quem vai tentar mudar algo vai começar por onde? Neguinho ta perdido. O povo ta vivendo na base de Pão + Universal. O que a gente vai fazer?
Gente não dá mais pra acordar com a certeza de que não tem mais jeito, não dá! Assim não dá pra viver! Viver sem perspectiva, fazendo com que o futuro repita o passado, cheio de lacunas, sem memória, sem a menor evolução intelectual. Eu sei que o processo é lento, mas acredito que possa mudar. Eu sou ingênua por acreditar? Acho que não. Eu não sei você mas eu acredito que o meu trabalho tem o poder de transformar,eu acredito na força de quem está afim.
Muito bom.
ResponderExcluirNa verdade, essa "burrice"+cegueira+conformismo esta tão espalhada. Não é só aqui...
Talvez aqui a religiosidade estípida deixe as coisas mais na cara, mas, no fundo, no fundo, o barco é bem maior...
É a consequência de ficarem comprando aqueles telejornais de quinta categoria (MEIA HORA, EXPRESSO, MARCA BRASIL, O SÃO GONÇALO, O ITABORAÍ, ETC) e se deixarem manipular pelos vários tipos de mídia que possam imaginar é que a população deixa de ser crítica, pensando que tudo fica na base do "mais do mesmo".
ResponderExcluirAqui deixo uma pergunta: Como as pessoas param para ver um jogo de futebol na final de uma decisão e debater à exaustão e estas mesmas pessoas falarem que a política não presta e deixam se fantasiar por falsas promessas?
Exelente crônica.
ResponderExcluirRealmente a ausência de pensamento crítico beira o absurdo,a nossa sociedade está estagnada, vivemos na era da informação mas parece que tudo que nos importa são os Big Brothers e Fazendas da vida.
Porém eu sou partidário das ideias da autora, acretido na mudança, e são atitudes como essa crônica ou esse blog que auxiliam o processo de evolução intelectual da nossa cidade.
Parabéns a todos que de alguma forma fazem a sua parte na busca por uma sociedade mais consciente.
"Nada deve parecer impossível de mudar" (Berold Brecht)
Vinicius Diniz